A Rádio CBN criou um concurso de jornalismo universitário que propõe à alunos de jornalismo produzirem reportagens de rádio em qualquer formato, com o seguinte tema: como a formação educacional contribui para o exercício da cidadania. À princípio o tema me interessou e, bastante animado com a perspectiva de ter uma reportagem minha veiculada na CBN, comecei a escrever a matéria discutindo essa questão tão empírica que é a influência da educação na cidadania.
Não é algo complexo ou tão relevante em um processo de conscientização individual - mesmo a mais vulgar das análises já percebe que para construir uma sociedade democrática é necessário ter também uma educação democrática. Lembro que, no cursinho, ao explicar a formação cultural e erudita dos atenienses, o professor de História disse uma frase que me marcou profundamente: é claramente perceptível o porquê dos atenienses ensinarem à seus jovens música, literatura, teatro e política, afinal, são eles que cuidarão do cenário político-social em que viviam. Em outras palavras, sabendo que a pólis seria regida futuramente por aqueles jovens em formação, os adultos se preocupavam previamente em trabalhar na construção de uma formação sofisticada para esses jovens afim de construir, consequentemente, uma sociedade melhor.
Em contrapartida, estudando em uma universidade pública eu vejo que passamos por um problema muito forte no que diz respeito à formação da consciência individual e coletiva. Inicialmente esse problema se dá pelo já debatido, rebatido e milhares de vezes discutido tema da educação pública fundamental. Sucateamento, falta de professores, criminalidade, enfim, todas essas palavras se priorizam frente a uma discussão mais aprofundada: para que formamos? O estudante brasileiro possui uma formação individual e, sobretudo, individualista. Ele não é um estudante construído para viver a coletividade em sua plenitude - alguns colégios particulares, como aquele em que estudei, pregam esse discurso da coletividade e se dizem praticantes dessa pedagogia com iniciativas como "incentivo ao esporte", "exigência de trabalhos em grupo", etc... Entretanto, nossa formação educacional se dá desde o início para um funil (mais conhecido como vestibular) que exige de você uma competitividade excessiva e um acúmulo de informações frenético, que se sobrepõe ao aprendizado. Em outras palavras: não aprendemos História ou Geografia, como os atenienses faziam, para nos formarmos melhor enquanto cidadãos. Aprendemos História e Geografia porque o vestibular vai cobrar de você, aluno individual, no futuro.
Sendo orientado dessa maneira, como cobrar, portanto, do estudante universitário, acostumado com essa individualização e tendo obtido um grande resultado por ela (ou seja: o aprovado em um vestibular de uma universidade pública vê um sentido pleno nesse processo, uma vez que conseguiu alcançar seu objetivo) que ele se preocupe com o estudante que não passou no vestibular? Sobretudo com aquele estudante que sequer prestou vestibular? Indo mais fundo ainda: como pode-se querer formar nesse estudante universitário uma consciência que o faça se preocupar com o jovem de mesma idade da sua que sequer estudante é?
Nesse índice de setorização e individualização, vemos universidades públicas financiadas com dinheiro público, sustentadas por uma sociedade inteira, que não devolvem para essa sociedade profissionais que construirão algo a seu favor. Nesse sentido, a educação básica que nos é dada é tão precária que afeta, sumariamente, a democracia não institucional que deveria reger nossas relações humanas e sociais e que deveria ser responsável por promover a cidadania em cada um. Enquanto as bases não forem mudadas e planejadas, enquanto sistemas de inclusão universitária tão medíocres como o vestibular continuarem a ser implementados, os estudantes universitários continuarão a ser peças indiviualistas com siglas de renome em seu diploma, cujo trabalho será sempre direcionado ao "eu" e nunca ao "nós".
2 comentários:
Porra, esse foi tenso! brincando com o tema, foi uma dissertação nota 10 ^^
esse posto foi muito "nossa conversa no studio de radio 4ª feira" né?
dividemos angústias... e vejamos se conseuimos fazer algo pra mudar esse cenário lamentável e alienante né? :)
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