terça-feira, 13 de julho de 2010

A volta do malandro: do Pasquim ao CQC.

Recentemente, fiz uma entrevista com a jornalista Christina Charão, editora do Observatório do direito à comunicação, órgão da imprensa alternativa responsável por zelar pela democratização dos meios midiáticos. Umas das perguntas que eu fiz à ela foi à respeito do alcance da mídia alternativa: como, num país onde a leitura já não é um hábito disseminado e mesmo a grande mídia impressa não é lida diariamente pela população, a mídia alternativa consegue alcançar um grande público. A resposta dela foi categórica: “Sabemos que isso é praticamente impossível, e nem é esse nosso objetivo”. Segundo Charão, seu trabalho visa, sobretudo, tornar-se referência à especialistas no gênero.
Logo, eis um desafio atual da imprensa no que diz respeito à seu objetivo principal, isto é, disseminar informação. Olhando os órgãos de comunicação dos dias de hoje, percebo que muitos já se contentam com seu público alvo adquirido e não buscam, seja por meio de uma maior fluência e oralidade no texto ou por uma democratização do acesso ao jornal, abranger esse mesmo público.
No passado, durante a década de 70, surgiu O Pasquim, um órgão de mídia alternativa por onde passaram nomes como Ziraldo, Sérgio Cabral, Millôr Fernandes, Paulo Francis, dentro outros inúmeros intelectuais da esquerda que colaboraram com o órgão. O sucesso do Pasquim, à revelia de toda a imprensa alternativa da época, se deu por aliar crítica política ao humor. Sem uma diretriz ideológica específica, mas tornando a razão da crítica acessível à todo e qualquer brasileiro, independente de sua faixa etária ou classe social, o Pasquim tornou-se uma febre que saiu da praia de Ipanema para atingir todos os lugares do Brasil, fazendo sucesso inclusive nas cidades do interior. Em uma análise feita por Bernardo Kucinski em seu livro Jornalistas e Revolucionários, o que me chama atenção no modelo do Pasquim é sobretudo uma ferramenta midiática que Kucinski chama de horizontalidade da informação. Ao passo que a grande mídia coloca o jornalista em um pedestal de onde ele fala para os leitores, seus subalternos, o Pasquim dialogava com o leitor em uma espécie de “conversa de boteco impressa”. Atendo a diretriz editorial de qualquer programa de televisão ou jornal a esses três pilares do Pasquim, ou seja, a crítica bem humorada, a linguagem acessível e coloquial e sobretudo o diálogo cara-a-cara com o leitor/espectador, qual expoente da imprensa atualmente trabalha com a mesma linha?
O CQC de Marcelo Tas trás consigo essas características em seu modelo editorial de uma forma impressionante. Nunca fui um espectador ativo do programa, e, na maioria das vezes eu descubro as pautas que estiveram nas últimas edições por meio de amigos que sempre comentam. Mas o CQC é realmente um exemplo, não de programa de humor, mas de programa jornalístico que usa o humor como uma ferramenta. Não há quem assista ao programa e passe ileso pelas informações divulgadas por Tas e sua “patota” (como eram chamados, também, a turma que compunha o Pasquim). Consigo enxergar questões essenciais à uma renovação da mídia e da política atuais no programa: desde o quadro Top 5 onde eles elegem as barbaridades semanais da televisão brasileira, até entrevistas com senadores, deputados e candidatos em voga, onde conseguem extrair dos mesmos a ignorância política que muitas vezes está presente no corpo legislativo do pais.
De um modo ou de outro e, é claro, se adaptando às novas mídias (uma vez que a televisão hoje é quase um item de necessidade básica à cada família), o CQC é o nosso Pasquim do momento. E talvez ele seja um exemplo, tanto para a mídia alternativa em geral quanto para os jornalistas, de que é possível se fazer crítica política e de costumes atingindo o grande público e estando fora dos maiores órgãos de imprensa do pais.

2 comentários:

Torugo disse...

"todo paulista é bixa"

comentário infeliz

Anônimo disse...

No fundo, bem pequenininho, está escrito "todo paulista que não gosta de mulher"