Fui cair na exposição Andy Warhol – Mr. América por acaso. Não pretendia ir à exposição naquele dia, tampouco imaginava, quando tomei essa decisão de última hora, que seria tão importante para mim entrar na galeria da estação Pinacoteca naquele momento.
Andy Warhol é um artista contemporâneo por excelência, sobretudo um artista de vanguarda na essência da palavra (do francês avant-garde, algo que se pronuncia antes do que vai acontecer). A arte dele se constrói à partir da sociedade de consumo, refletindo o que ela produz, consome e descarta – um grande paradoxo, portanto, entre lixo e luxo, nos levando a
pensar se essa ponte que nasce entre um outro, em qualquer instância, desde suas extremidades até seu meio, não sejam passiveis de se tornarem arte. “O que é arte?” já era uma questão levantada por Marcel Duchamp quando criou sua obra mais conhecida, “A fonte”. Esses dias, lendo uma matéria na revista Carta Capital, descubro que existe não só uma, mas uma série de “fontes” legalizadas por Duchamp. Ou seja: um artista cria sua obra e, por ser uma obra de fácil execução, ela se torna passível de ser realizada por outros. Arte sendo produzida em série: nada mais industrial, capitalista, midiático e globalizado que isso. Warhol prevê essas coisas – aliás, não prevê porque na década de 60, apesar da contracultura instaurada, a sociedade de consumo norte-americana já havia se desenhado nos moldes do American Way of life – mas ele consegue sentir que nesse processo gradativo em que essa sociedade evolui, as coisas iriam chegar aos índices do patético e do bizarro: “no futuro, todos terão seus 15 minutos de fama”.
Em alguns quadros como “Cadeira elétrica”, o choque se instaura pela primeira cena: uma sala vazia onde restava, inerte, uma cadeira elétrica recém usada (nota-se por suas amarras frouxas). Uma repetição dessa cena em outras cores, notadamente mais escuras e iguais (Warhol usava telas de serigrafia para constituir suas séries, tais como “Marilyn” e “Jackie”). Ao final da série, uma frase do próprio artista em que dizia que as coisas, após serem repetidas, perdem seu sentido. A morte inspirada pela cadeira elétrica, vai, aos poucos, se banalizando, até tornar-se um índice convencional na sociedade e virar uma notícia de jornal.
Notadamente, não simpatizo com Warhol por minhas questões ideológicas, afinal ele reafirma condições sociais que me desagradam sinceramente, e sobretudo faz parte delas. Warhol promovia festas apoteóticas em seu estúdio conhecido como The Factory, totalmente recoberto por papel laminado e objetos prateados, onde só compareciam a alta sociedade nova-iorquina dos anos 70 e 80. Ele se diz satisfeito com a eleição do presidente Kennedy, em uma frase registrada numa das paredes da exposição, por
que é um presidente jovem e bonito. Em nenhum momento sua arte se volta para a população de massa – ela critica a sociedade urbano-industrial norte americana com ferocidade, mas é revertida à ela própria, que consome, assim como as sopas Campbell, seus quadros e suas fotografias, arrematados em leilões milionários.
Entretanto, essa desavença entre nossos modos de pensar, me faz sentir que ele é um artista necessariamente expressivo. Afinal, Warhol me deixou, nessa exposição, um rastro de compreensão, um ponto final em certas questões que eu havia anteriormente levantado: “Um artista é alguém que produz coisas de que as pessoas não têm necessidade, mas que ele - por qualquer razão - pensa que seria uma boa ideia dá-las a elas”, diz ele. Eu diria: a indústria, muitas vezes, também. Mas a arte é mais importante porque, comercial ou não, ela leva a uma reflexão.
Andy Warhol não só fez arte em diversos campos, passando pela pintura, partindo para a fotografia, cinema (em filmes famosos como o Blow-job, notadamente traduzido nas paredes da estação Pinacoteca como Boquete,) e produção de bandas (a exemplo do Velvet Underground), mas ele viveu essa arte que defendia intensamente. Queria ganhar dinheiro e ser famoso com ela, desde o princípio. Era firme em seus objetivos. Penso que até quando levou três tiros de Valeria Solana, em sua The Factory e estava à beira da morte, Warhol deve ter pensado: isso vai virar uma performance!
A exposição fica em cartaz na estação Pinacoteca, na praça da Luz, até o dia 23 de Maio
Andy Warhol é um artista contemporâneo por excelência, sobretudo um artista de vanguarda na essência da palavra (do francês avant-garde, algo que se pronuncia antes do que vai acontecer). A arte dele se constrói à partir da sociedade de consumo, refletindo o que ela produz, consome e descarta – um grande paradoxo, portanto, entre lixo e luxo, nos levando a
pensar se essa ponte que nasce entre um outro, em qualquer instância, desde suas extremidades até seu meio, não sejam passiveis de se tornarem arte. “O que é arte?” já era uma questão levantada por Marcel Duchamp quando criou sua obra mais conhecida, “A fonte”. Esses dias, lendo uma matéria na revista Carta Capital, descubro que existe não só uma, mas uma série de “fontes” legalizadas por Duchamp. Ou seja: um artista cria sua obra e, por ser uma obra de fácil execução, ela se torna passível de ser realizada por outros. Arte sendo produzida em série: nada mais industrial, capitalista, midiático e globalizado que isso. Warhol prevê essas coisas – aliás, não prevê porque na década de 60, apesar da contracultura instaurada, a sociedade de consumo norte-americana já havia se desenhado nos moldes do American Way of life – mas ele consegue sentir que nesse processo gradativo em que essa sociedade evolui, as coisas iriam chegar aos índices do patético e do bizarro: “no futuro, todos terão seus 15 minutos de fama”.
Em alguns quadros como “Cadeira elétrica”, o choque se instaura pela primeira cena: uma sala vazia onde restava, inerte, uma cadeira elétrica recém usada (nota-se por suas amarras frouxas). Uma repetição dessa cena em outras cores, notadamente mais escuras e iguais (Warhol usava telas de serigrafia para constituir suas séries, tais como “Marilyn” e “Jackie”). Ao final da série, uma frase do próprio artista em que dizia que as coisas, após serem repetidas, perdem seu sentido. A morte inspirada pela cadeira elétrica, vai, aos poucos, se banalizando, até tornar-se um índice convencional na sociedade e virar uma notícia de jornal.Notadamente, não simpatizo com Warhol por minhas questões ideológicas, afinal ele reafirma condições sociais que me desagradam sinceramente, e sobretudo faz parte delas. Warhol promovia festas apoteóticas em seu estúdio conhecido como The Factory, totalmente recoberto por papel laminado e objetos prateados, onde só compareciam a alta sociedade nova-iorquina dos anos 70 e 80. Ele se diz satisfeito com a eleição do presidente Kennedy, em uma frase registrada numa das paredes da exposição, por
que é um presidente jovem e bonito. Em nenhum momento sua arte se volta para a população de massa – ela critica a sociedade urbano-industrial norte americana com ferocidade, mas é revertida à ela própria, que consome, assim como as sopas Campbell, seus quadros e suas fotografias, arrematados em leilões milionários.Entretanto, essa desavença entre nossos modos de pensar, me faz sentir que ele é um artista necessariamente expressivo. Afinal, Warhol me deixou, nessa exposição, um rastro de compreensão, um ponto final em certas questões que eu havia anteriormente levantado: “Um artista é alguém que produz coisas de que as pessoas não têm necessidade, mas que ele - por qualquer razão - pensa que seria uma boa ideia dá-las a elas”, diz ele. Eu diria: a indústria, muitas vezes, também. Mas a arte é mais importante porque, comercial ou não, ela leva a uma reflexão.
Andy Warhol não só fez arte em diversos campos, passando pela pintura, partindo para a fotografia, cinema (em filmes famosos como o Blow-job, notadamente traduzido nas paredes da estação Pinacoteca como Boquete,) e produção de bandas (a exemplo do Velvet Underground), mas ele viveu essa arte que defendia intensamente. Queria ganhar dinheiro e ser famoso com ela, desde o princípio. Era firme em seus objetivos. Penso que até quando levou três tiros de Valeria Solana, em sua The Factory e estava à beira da morte, Warhol deve ter pensado: isso vai virar uma performance!
A exposição fica em cartaz na estação Pinacoteca, na praça da Luz, até o dia 23 de Maio
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