Ano passado foi ano da França no Brasil, portanto muitos eventos diplomáticos e culturais ocorreram, principalmen
te na capital paulista para comemoração desse período. Restaurantes com cardápios especiais, exposições de artistas plásticos, o presidente Nicola Sarkozy deu o ar da graça, mostrando toda sua desenvoltura ao ficar olhando as pernas das acessoras brasileiras... e também muitos filmes aparecem no circuito comercial da cidade, comercial eu digo no sentido técnico, por eles só foram exibidos nas salas mais especializadas da região do centro. Tudo isso para falar que, em duas ocasiões, quando eu pude dar uma escapada dos livros do cursinho e ir ao cinema, eu acabei optando por ir ver alguns desses filmes. E o que mais me impressionou foi que esses filmes, além de sua grande qualidade, se assemelham em alguns aspectos.
O primeiro deles foi o ganhador da Palma de Ouro de 2008, Entre os muros da escola. Nesse filme é contada a história do cotidiano de uma escola publica da periferia de paris, nela se encontram alunos de diversas origens como, africanos, asiáticos, árabes e os próprios franceses de classe menos abastada. Algo que se destaca logo de inicio é o ritmo do filme, as cenas são longas, mas o os ocorridos são rápidos dando uma mistura de tempo diegético e tempo real muito interessante, transcorrendo diálogos incríveis entre o professor e os alunos que, diga-se de passagem, atuam com primor, tendo em vista que todos são não atores. François Bégaudeau, escritor do livro que é baseado o filme e interprete de si próprio no papel do Professor, junto do o diretor Laurent Cantet decidem mostrar os desafios passados por esses jovens de famílias imigradas, por vezes ilegalmente, em um universo cheio de desafios e provações, como a falta de dinheiro e o preconceito por parte da sociedade francesa, da maneira mais realista possível, mas usando as relações escolares para isso, através da discussão entre alunos e professor.
Já o segundo foi o polemico e ganhador de três prêmios no festival de Berlim, Bem-Vindo. Para explicar por que ele foi polemico, devo falar um pouco da historia do filme. Ele conta a trajetória do Jovem Curdo Bilal, que tenta chegar na Inglaterra para encontrar com a família de sua antiga namorada e realizar o sonho de se tornar um jogador de futebol. O problema é que ele é pego em sua tentativa de travessia (em uma cena emocionante onde os imigrantes ilegais tem de ficar por vários minutos sem respirar dentro de u
m caminhão) e por ser menor de idade ele não pode ser extraditado. Perdido em Paris, o jovem cria como meta a idéia maluca de atravessar o canal da mancha a nado, para isso começa a ter aulas de natação com Simon, que o ajuda de diversas maneiras, com a intenção de se reaproximar de Marion, sua ex mulher que é ativista na ajuda aos imigrantes, isso lhe resulta diversos problemas devido a uma lei que pune quem ajuda imigrantes. A polemica vem do fato de que, essa lei era real, e que após a estréia desse filme, o partido socialista francês propôs o fim dessa lei, causando certa tensão na área política que, nesse quesito, tem se tornado cada vez mais intolerante.
Lendo, pode parecer que a única semelhança entre esses fatos seria a temática da crise imigratória que vem ocorrendo na França nos últimos anos, porém o que eu tento levantar aqui para atenção das pessoas é a forma como essas historias são passadas em um filme, seguindo um enredo e uma construção fílmica extremamente realista, tão realista que um deles chegou a influenciar até na ação dos políticos. Acho que essa iniciativa, hoje em dia, é vista com maus olhos pelas maioria das pessoas, taxando o filme como intelectual ou de arte e que por isso significa ser chato ou ruim. Esse pensamento é errado e complicado de se mudar. Não discordo da existência de filmes voltados para um publico especifico, de conotação mais artística, contudo a iniciativa desses filmes é mostrar a vida como ela é e emocionar você ao mesmo tempo, fazendo você refletir. Acho que em tempos onde tudo tem d
e ser muito rápido, e até banheiras que viajam no tempo viram argumento de cinema, prestigiar filmes como esses é importante pois são a real expressão e comunicação através de uma linguagem que é a do cinema. Longe mim querer dizer que eles são melhores do que Blockbusters que aparecem nas salas de cinema, escapismo é valido ao ser humano, só acho injusto quando, por preconceitos, esses filmes não chegam a atingir um publico maior que certamente poderiam atingir. O cinema brasileiro tem muito disso também, mas vem tentando fugir com grandes produções como Chico Xavier, por exemplo.
Agora, por que nova onda do cinema francês sendo que eu só falei de dois filmes. Simples, pois diversos outros filmes seguindo esse viés mais realista foram estreando no decorrer do ano, entre eles o Horas de Verão, o belíssimo Escafandro e a Borboleta (esse como uma recomendação particular) e, a grande estréia dessa semana, Um Profeta, que ganhou o premio do júri do festival de Cannes do ano passado, ficando ai a indicação para esse fim de semana, curtir o que os franceses tem de melhor que é o cinema já que, entrando no clima da copa do mundo, seu futebol vai de mal a pior.
Locais e horarios para assistir Um Profeta
| Cine Bombril - Sala 1
18:00 | 21:00 | 15:00 exceto domingo |
18:00 | 21:00 | 15:00 exceto doming
| Reserva Cultura de Cinema - Reserva Cultural 1
18:10 | 21:15 | 15:05 exceto domingo |

Um comentário:
Adorei a sacada final do post, hahaha.
E vou acatar as sugestões, tô pra ver esse filmes há um tempão.
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